domingo, 5 de outubro de 2008

O sonho dentro do sonho



Marisia sempre teve o dom de sonhar bem. Seus sonhos têm começo, meio e fim, as cores claras e belas, têm nomes e lugares exatos, têm rumo e destino, dosam tristeza e alegria nos seus tamanhos certos e têm sempre a generosidade desabrida de estar vivos na hora em que Marisia acorda.

E talvez seja isso o que mais a fere: acordar destes sonhos multicores e tê-los próximos e doloridos durante todas as solitárias horas de seus dias em preto-e-branco.

Então que, numa noite qualquer em que já se preparava para dormir, o copo de água acomodado no criado-mudo, Marisia teve a idéia de salvar seus dias: tentaria, no sonho, encontrar o par perfeito.

O par perfeito chamava-se Osvaldo e encantou ainda mais o sonho de Marisia. Esta, quando acordou, descobriu que era feliz: sabendo escolher os motivos de seus sonhos, seus dias monótonos serviam apenas como intervalos às noites coloridas.

Atravessou a claridade do dia aos sobressaltos, lembrando de Osvaldo a cada minuto e torcendo para que a noite e os sonhos chegassem logo. À hora de dormir, sorrindo em sua camisola nova, lembrou-se de ordenar a si mesma que sonhasse novamente com o par perfeito.

Osvaldo esperava por ela à beira do sonho, abraço estendido. Percorreram a noite como se houvessem nascido amantes e despediram-se às novas luzes da manhã, apenas quando Marisia já não conseguia mais sustentar o sono. À hora exata em que acordou, ela ainda sentia em sua boca o peso quente dos lábios de Osvaldo.

Assim todos os últimos dias, as noites cada vez menos bastas à felicidade do par perfeito, sete horas de sono que pareciam duas, o despertador insensível interrompendo juras de amor, Marisia recomeçando todos os dias o sofrimento da longa espera.

Foi quando ela achou que era a hora de ficar para sempre com o amor de sua vida e decidiu sonhar que não acordava mais.
Desde então, ambos vivem no sonho de Marisia um idílio sem faltas. Até quando ela seguirá neste sono inacabável, ninguém sabe – mas, enquanto isso, os dois são felizes.



Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Henrique!
Não sei se é você mesmo que administra este blog, mas em todos os casos, venho deixar uma mensagem à sua pessoa.
Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelas belissimas palavras na palestra que você fez, em Nova Hartz.
Segundo, achei super sem graça não ter nenhum texto seu, ou frase qualquer, publicados na internet.
Até essa palestra, não sabia sequer que você existia, e muito menos, que escrevia coisas super bacanas!

Não sei se você lembra, que uma menina perguntou pra você, o que gostava de ouvir?
Se lembrar... foi eu quem pediu pra ela lhe perguntar isso! heheh
Tem bom gosto musical, viu? :P

Adorei as histórias que foram contadas.
Estou louca pra começar a ler Contramão! Parece que é ótimo!

Ah, se vc puder, tem como me mandar alguns de seus contos?
Gostaria muito de tê-los guardados entre os meus favoritos :)

Parabéns pelo trabalho!!! Sucesso!